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Gratidão melhora a saúde

Data do post: 03/09/2018

A ciência mostra que o sentimento produz intensas modificações físicas no organismo.

Por ter recebido ajuda de um amigo, conseguido um emprego, ser escolhido líder pela maioria... Você pode sentir gratidão por qualquer coisa, real ou imaginária, não importa. Importante é que este sentimento exista porque produz uma cascata de reações que os cientistas avaliam de uma forma muito positiva, conforme aponta uma quantidade crescente de pesquisas que está oferecendo novas percepções sobre a importância dessa sensação. Muitos dos estudos que serão apresentados em um seminário em Nova Orleans, nos Estados Unidos, no primeiro semestre deste ano, são fruto de uma iniciativa da Universidade da Califórnia, que investiu em um projeto chamado Expandindo a Ciência e a Prática da Gratidão, ao custo de R$ 3 milhões e bancado pela John Templeton Foundation.

Por que tanto interesse no assunto? “A gratidão produz efeitos na saúde física e mental”, defende Robert Emmons, professor da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, que nos últimos onze anos se dedica ao estudo do tema e é considerado o maior especialista nesse assunto no mundo. Suas pesquisas apontam que a gratidão também pode produzir grande impacto social. Após estudar mais de mil pessoas de oito a 80 anos, ele diz que obteve relatos consistentes sobre os benefícios da prática. “No aspecto físico, ela ajuda a dormir melhor e a se sentir mais revigorado ao acordar, ajuda a baixar a pressão arterial e a melhorar o sistema imune”, afirma o psicólogo. Para Emmons, o efeito transformador que a gratidão teve na vida dos voluntários da sua pesquisa pode ser explicado. “Ela nos incita a celebrar o presente e aumenta as emoções positivas. Nós nos adaptamos às circunstâncias da vida de uma maneira tão rápida que, em pouco tempo, o carro novo ou o cônjuge não são mais tão excitantes ou novos. Mas a gratidão nos acorda para apreciar o valor das coisas e permite participar mais da vida, celebrando seus aspectos positivos e os prazeres”, diz o pesquisador.

O papel da gratidão na saúde mental começa também a ser mais compreendido. Ela torna as pessoas mais resistentes à tensão. “Em face de um trauma grave, adversidade e sofrimento, há estudos que mostram que as pessoas com disposição a serem gratas se recuperam mais rapidamente. Acredito que a gratidão ajuda a proteger contra estresse pós-traumático e ansiedade duradoura”, diz Emmons. Ele ressalta também que as pessoas gratas têm maior autoestima.

Ser grato pode funcionar também como um fator de proteção social. Adolescentes que se sentem gratos são menos propensos ao abuso de álcool e drogas do que seus colegas mais distanciados desse sentimento e apresentam menos problemas de comportamento na escola, de acordo com uma pesquisa que teve quatro anos de duração e foi coordenada por Giacomo Bono, PhD e professor de Psicologia da Universidade Estadual da Califórnia. Para mensurar o nível de agradecimento, ele e seus colegas pediram a 700 alunos entre 10 e 14 anos para responder questionários em sala de aula no início do estudo e, novamente, quatro anos mais tarde.

Os cientistas selecionaram 20% dos alunos que apresentaram maior aumento nos níveis de gratidão no período e os que demonstraram menor evolução desse sentimento. Um dos aspectos é que os adolescentes se mostraram mais satisfeitos com sua vida em geral, em casa, na escola e no bairro, mais esperançosos sobre suas vidas e experimentaram uma redução de 13% em emoções negativas e 15% menos sintomas depressivos. “Os adolescentes agradecidos mostraram disposição e humor que lhes permitiu responder positivamente às pessoas e coisas boas em sua vida. Os resultados sugerem que a gratidão pode ser fortemente ligada com habilidades de vida, tais como a cooperação, a objetividade, a criatividade e persistência”, avalia Bono.

Mais um estudo, desta vez realizado por pesquisadores da Universidade da Cidade de Hong Kong, na Ásia, concentrou- se sobre as relações entre a gratidão e o sono. Ng My e Wong WS descobriram que níveis mais elevados de gratidão podem estar associados com sono melhor e menos ansiedade. Os mecanismos pelos quais esses processos ocorrem ainda estão sendo investigados. Porém essa variedade de estudos sobre o impacto da gratidão levou o Instituto Nacional de Saúde americano (NIH, sigla em inglês) a examinar o cérebro com exames de imagem para rastrear mudanças de padrão promovidas pela experiência da gratidão. O que se viu em um dos estudos foi que os indivíduos que sentiam mais gratidão em geral apresentavam níveis mais altos de atividade no hipotálamo, região que regula muitas funções do corpo, e tem grande influência sobre o metabolismo e os níveis de estresse. Também foram observados maiores quantidades de dopamina, um hormônio produzido por células nervosas que está ligado às sensações de recompensa, prazer e motivação. Por essa linha de estudo, é bem possível que se descubra que sentir-se grato e usufruir dos efeitos dessa sensação pode levar a pessoa a querer repetir a dose.

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